A economia portuguesa na primeira metade do século XVII
Após um ciclo de expansão económica no séc. XVI, o início do século seguinte marca um tempo de estagnação económica em Portugal. Porém, o país, que tinha no comércio marítimo a maior fonte de riqueza, continuava a praticar o comércio triangular. Tendo como lados do triângulo Atlântico, a Europa, a costa Ocidental Africana e o Brasil, era entre estes territórios que as mercadorias circulavam, transportadas em embarcações portuguesas.
O ciclo de expansão económica, que caracterizou o século XVI português, foi interrompido em inícios do século XVII, por volta de 1620, governava Filipe IV a União Ibérica, correspondendo também ao escalar dos conflitos europeus.
Em 1580 Portugal perdera a sua independência e a sua coroa passara para a tutela de Espanha. Se o país fora amputado da sua autonomia política, a actividade económica não sofreu qualquer depreciação, bem pelo contrário, verificando-se até melhorias nas relações comerciais com o império, sobretudo com o Brasil, o grande produtor mundial de açúcar.
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), porém, trouxe a Portugal a estagnação económica e o avolumar dos conflitos sociais, quer pelos pesados impostos lançados para suportar o esforço da guerra europeia, quer, depois de 1640, pelo aumento da carga fiscal exigido pelas guerras da Restauração (1640-1665).
Ao longo do século XVI, Portugal expandiu as rotas marítimas servindo como um dos intermediários comerciais entre a Ásia e a Europa, trazendo nas suas naus e galeões produtos como especiarias, drogas, madeiras exóticas, sedas, pedras preciosas, porcelanas e mobiliário.
Na centúria de quinhentos, assiste-se também ao redobrado interesse português pelo seu território americano. A partir da segunda metade do século, com o incremento da plantação da cana do açúcar no Brasil, iniciava-se uma importante e lucrativa rota comercial que se prolongaria até meados de setecentos. A proliferação de engenhos e o aumento significativo da produção açucareira implicava uma abundância de mão-de–obra que seria encontrada em África através de praticas escravocratas.
Em finais do século XVI, com a ascensão de duas outras potências marítimas europeias – Inglaterra e a Holanda -, que, no oriente, disputavam com os portugueses o comércio asiático, entrava em franco declínio a carreira da Índia. Portugal virava-se então para o Brasil, a nova jóia da coroa, incrementando-se o que passou a ser designado por comércio triangular, ou seja, o comércio articulado entre três regiões.
No caso português, o comércio triangular estruturava-se em torno de três vértices: a Europa, a costa Ocidental Africana e o Brasil. Dos portos portugueses, fundamentalmente de Lisboa, partiam embarcações carregadas de produtos manufacturados: armas de fogo, álcool, tecidos, bugigangas e outros artigos de pouco valor comercial com destino a África. Aqui, nos entrepostos comerciais do litoral africano (Gana, Golfo da Guiné, região entre Luanda e Benguela), aqueles produtos serviam de moeda de troca à aquisição de homens, mulheres e crianças reduzidas à escravatura e transportados, em navios negreiros, para as Américas, mas também para a Europa. O lucrativo tráfico de escravos integrava o comércio triangular, pois, a maior parte dos cativos era vendida como mão-de-obra para as plantações americanas.
De certa forma, podem considerar-se os escravos como a mola principal da economia europeia, não só pelos lucros que rendiam aos países negreiros (Portugal era um deles), mas também para o sistema de produção colonial, como era o caso do açúcar no Brasil.
A costa ocidental africana apresentava-se, assim, como o segundo vértice do comércio triangular. Aqui, os escravos trocados por artigos provenientes da Europa eram amontoados em embarcações capazes de atravessarem o Atlântico Sul, para, no Brasil, serem vendidos aos donos das plantações e dos engenhos açucareiros, que os trocavam por açúcar, tabaco, ouro e prata ou até letras de crédito de praças financeiras europeias.
Do Brasil, o terceiro vértice do comércio triangular, partiam embarcações carregadas de açúcar, tabaco e, mais para o fim do século XVII, ouro e pedras preciosos, que aportavam nos portos europeus.
As mercadorias coloniais americanas eram então utilizadas como moeda de troca e serviam para a compra de produtos manufacturados, como tecidos e armas. Estes, para além de proverem às necessidades dos portugueses, uma vez que o Portugal carecia de manufacturas, satisfaziam as trocas comerciais com a costa ocidental africana, onde eram trocados por escravos, tão necessários ao desenvolvimento da economia colonial, com um inquestionável lucro para as finanças do reino.
Síntese:
- A estagnação económica do séc. XVII deveu-se à Guerra dos Trinta Anos, às Guerras da Restauração e à concorrência estrangeira na comercialização dos produtos coloniais.
- O comércio triangular teve início na segunda metade do século XVI prolongando-se pelos séculos seguintes. A escravatura alimentou o comércio triangular.
- A escravatura alimentou o comércio triangular.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Caracterizar da economia portuguesa na primeira metade do século XVII, salientando a prosperidade dos tráfegos atlânticos (especialmente a rota do comércio triangular).
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/André Silveira
- Ano: 2021
- Imagem: Gravura com vista da entrada da barra de Lisboa (1662), Rijksmuseum