Mobilidade da população: movimentos
A mobilidade é um atributo intrínseco do ser humano. Desde os primeiro hominídeos que o planeta tem assistido a migrações humanas que atravessam regiões e continentes, motivadas por razões muito diversas. Mas foi há cerca de 80 mil anos, numa grande migração, a partir do coração de África, que se deu a “colonização” do resto do planeta. Com a necessidade do Homem se deslocar entre lugares, estabeleceram-se rotas que marcaram a vida das regiões, alterando a vida dos lugares atravessados. Quando o número de pessoas que se desloca é muito elevado, os movimentos migratórios afetam indelevelmente as áreas de partida, mas também têm repercussões sociais, económicas, demográficas e ambientais nas áreas de destino.
Nas últimas décadas, ou mesmo nos anos mais recentes, o mundo tem assistido a um incremento dos fluxos migratórios (deslocamento de grupos populacionais entre lugares), resultado também do processo de globalização e do desenvolvimento dos transportes (Fig.1).
Trata-se de um fenómeno mais complexo do que se poderá pensar, pelo volume de pessoas envolvidas, pelas motivações que implicam, pelos trajetos que são seguidos, pelos efeitos que causam, pelas narrativas que estão por detrás de cada pessoa que procura um futuro melhor noutra parte do mundo. Trata-se de um fenómeno que, tal como o mundo em que vivemos, está em constante mudança e se complexifica.
Ao longo da História, houve muitas ocasiões em que grandes movimentos migratórios humanos ocorreram entre diferentes regiões, não só dentro do mesmo país como entre diferentes países. O termo migração designa a deslocação de pessoas entre duas áreas administrativamente diferentes, quaisquer que sejam os limites transpostos (país, concelho, freguesia, etc).
Se, por exemplo, a deslocação ocorre entre países diferentes, dizemos que se trata de uma migração internacional ou externa, mas se ocorre dentro do mesmo país, então denominamos de migração interna.
Se nos estamos a referir a um conjunto alargado de pessoas que saem do seu país e se deslocam para outro em busca de melhores condições de vida, dizemos que há emigração, pois essas pessoas saíram do seu país. Mas, para a população do país que as recebe, houve imigração. Portanto, o mesmo movimento de pessoas tem designações diferentes, consoante a perspetiva em que esse movimento é visto. Tomemos, por exemplo, o caso de uma família portuguesa que sai de Portugal e fixa residência na Suécia. Em Portugal dizemos que essa família emigrou (movimento para fora do país) e na Suécia dizem que a família imigrou (movimento para dentro do país).
Quando falamos da emigração, referimo-nos a motivos essencialmente económicos que impulsionam os grupos humanos a deixar o seu país e a procurar outras regiões em busca de emprego e melhores condições de vida. Nestes casos, a migração é voluntária pois parte de uma vontade deliberada em procurar outro país para trabalhar e viver, ainda que de forma não definitiva.
De acordo com a Organização Mundial das Migrações, dos cerca de 232 milhões de migrantes a nível mundial, estima-se que cerca de 70% o façam por motivos laborais, equivalendo a mais de 150 milhões de pessoas. De acordo com aquela organização, 75% desses migrantes deslocam-se para países desenvolvidos e economicamente mais favoráveis.
Porém, a História mundial é pródiga em situações em que as populações se viram forçadas a migrar para outras paragens, devido a perseguições por motivos religiosos, raciais ou políticos. Os conflitos armados e as catástrofes naturais (erupção vulcânica, tsunami, inundações, etc.) assim como situações de fome, estão também entre os motivos mais dramáticos que forçam populações inteiras a procurar asilo e novas oportunidades noutras regiões mais longínquas.
A estas populações em fuga dá-se o nome de refugiados, com um estatuto próprio por estarem forçadamente deslocados do seu país e, por conseguinte, sujeitos a alguma proteção legal nos países que os acolhem (Fig.2,3).
Com mais de metade da população mundial a viver atualmente em áreas urbanas, não é de surpreender que as cidades sejam o principal destino das populações migrantes, sejam internacionais ou internas, pois é nas cidades que o capital humano é, em geral, mais recompensado. Podemos assim dizer que migração e urbanização são quase sinónimos.
As cidades são, por natureza, áreas onde as promessas de uma vida melhor atraem fluxos crescentes de pessoas, não só trabalhadores como as suas famílias. Essas populações engrossam um movimento bastante amplo que se designa por êxodo rural e que consiste na deslocação em massa de um grande contingente de pessoas que vive em áreas rurais para as áreas urbanas.
Enquanto nos países em desenvolvimento de África ou da América do Sul e Central ainda se assiste à procura das cidades pela ansiada qualidade de vida para as populações rurais, nos países desenvolvidos, em particular na Europa, assiste-se a um movimento migratório de sentido inverso.
Porque a vida nas grandes cidades já comporta alguns inconvenientes (poluição, elevado custo da habitação, tráfego intenso, insegurança, etc.) e o desenvolvimento das telecomunicações e das infraestruturas rodoviárias nas áreas rurais consegue contrair as distâncias, assiste-se a um voltar de costas à vida na cidade e ao retorno às origens, às áreas rurais do interior – êxodo urbano – que vai permitindo uma dinamização das regiões interiores, tanto em termos populacionais como económicos e até culturais.
SÍNTESE
- Os movimentos migratórios ou os simples fluxos populacionais decorrem da necessidade do ser humano se deslocar entre diferentes regiões, motivado por fatores tão diversos como a procura de emprego e melhores condições de vida, a fuga a catástrofes naturais ou a deslocação diária de casa para o trabalho e no percurso inverso.
- As migrações podem ser internas ou internacionais, consoante a população se desloque apenas dentro do país, como no caso do êxodo rural ou dos movimentos pendulares, ou atravesse fronteiras, como a emigração.
- Quanto maior for o número de pessoas que participam nos fluxos migratórios, maiores serão os impactes económicos, demográficos, sociais e ambientais nas áreas de origem e destino dos respetivos fluxos.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: População e Povoamento - A população utilizadora de recursos e organizadora de espaços / A distribuição da população
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de Geografia
- Ano: 2021
- Imagem: Migrantes que arriscam travessias de barco mediterrânicas até à Europa, Reuters