Vazios Humanos – Florestas e Montanhas
A tecnologia permite ultrapassar muitas barreiras físicas, mas nos grandes vazios humanos, as características naturais ainda se sobrepõem à capacidade do ser humano inverter o seu caráter repulsivo. Há lugares no planeta cuja adversidade extrema impede ou torna muito difícil a existência humana, pelo que, sem a intervenção do Homem e portanto, quase naturais, estas paisagens são das mais belas do mundo. As florestas e montanhas apresentam-se, no conjunto destes territórios, com características muito próprias e que importa salientar.
Para além dos grandes desertos, no conjunto dos lugares mais repulsivos do planeta, são de realçar as grandes florestas e as regiões montanhosas.
As florestas, sobretudo aquelas que se associam ao clima equatorial, beneficiam de condições climáticas ímpares para o seu crescimento, nomeadamente temperaturas médias mensais acima dos 20 graus centígrados, pela perpendicularidade dos raios solares e quantitativos de precipitação elevados (superiores a 1200mm anuais), em resultado da convergência dos ventos alíseos ao longo do Equador (Zona de Convergência Intertropical) e subida em altitude das massas de ar, originando forte nebulosidade.
Tais condições propiciam a existência de inúmeras espécies vegetais (no Bornéu foram classificadas mais de 15000 espécies vegetais, incluindo 2500 variedades de orquídeas), estratificadas em patamares e a poder atingir alturas superiores a 80m. Simultaneamente, estas florestas albergam o habitat de inúmeras espécies animais, contribuindo para a maior biodiversidade do planeta.
São exemplos as florestas que se localizam na América Central (sul da Península do Iucatão) e na América do Sul (Amazónia), na África subsariana (dos Camarões até à República Democrática do Congo), as do sudoeste asiático (Filipinas, Indonésia, Papua-Nova-Guiné) e as localizadas em muitas ilhas do Pacífico (Havai) – Fig.1.
No entanto, os lugares densamente florestados são hostis à presença humana. Saliente-se que, a vegetação de grande porte apresenta uma folhagem larga e de grande dimensão, levando a que as copas densas impeçam a penetração dos raios solares e consequente realização de fotossíntese por parte dos estratos inferiores que, por falta dela, não se desenvolvem (Fig.2).
Por outro lado, a elevada densidade vegetal e as altas temperaturas registadas (fraca amplitude térmica anual) tornam os níveis de evapotranspiração e humidade muito acentuados, infligindo dificuldades respiratórias e maior propensão do ser humano em contrair determinadas doenças (malária e febre amarela), por infeção de microrganismos que encontram nestes lugares, o clima ótimo para a sua disseminação.
Paralelamente, as baixas pressões equatoriais, associadas a movimentos de ascendência do ar e precipitação frequente do tipo convectivo, causam a lixiviação dos solos, isto é, remoção e arrastamento dos nutrientes por ação das chuvas. Em consequência, e não obstante a produção contínua de muita quantidade de matéria orgânica, os solos destas áreas são muito pobres.
Apesar de repulsivas, as florestas são essenciais devido à produção de oxigénio e sequestro do carbono da atmosfera e pela enorme variedade de substâncias naturais constituintes dos fármacos, sendo muitas vezes apelidadas de “maior farmácia do mundo”. A desflorestação é, assim, uma grande ameaça ambiental, pois promove a perda de biodiversidade, mas também alterações do clima com o aumento dos gases com efeito de estufa e consequente aquecimento global.
As grandes montanhas (Fig. 3, 4) correspondem, também, a vazios humanos devido a um gradiente térmico vertical em que a temperatura diminui à medida que a altitude aumenta.
Por outro lado, a disposição do relevo face a ventos húmidos oceânicos e a existência de vales profundos que canalizem estes ventos para outros setores da montanha, assim como a exposição e inclinação das vertentes face aos raios solares, provocando uma maior ou menor obliquidade destes (vertente umbria versus soalheira), contribui para uma variação local da temperatura, entre lugares à mesma altitude. Por norma, locais de grande altitude, em vertentes umbrias e abrigados das massas de ar marítimas, correspondem a lugares muito frios, cuja presença humana fica drasticamente comprometida.
Para além da temperatura, a altitude é também responsável pela diminuição da pressão atmosférica e aumento da rarefação do ar (menor variedade em gases constituintes), causando dificuldades respiratórias ao ser humano.
Por seu lado, a inclinação das vertentes torna difícil a edificação de estruturas, bem como a utilização de máquinas de apoio à prática agrícola. Quanto às culturas, o seu desenvolvimento está fortemente limitado pelas temperaturas baixas, pois as condições climáticas favoráveis estão circunscritas a um curto período do ano.
Já o declive das vertentes e a erosão provocada pela precipitação, são responsáveis pelo arrastamento dos compostos orgânicos e inorgânicos ao longo da encosta. À medida que se sobe, os solos são mais pedregosos e a quantidade de matéria orgânica é cada vez mais diminuta.
Por todos estes fatores, as cordilheiras dos Himalaias, Andes, Montanhas Rochosas, Cáucaso, Alpes e outras, encontram-se no conjunto das mais belas paisagens naturais do mundo.
SÍNTESE
- Os vazios humanos são lugares ou regiões mais vastas onde fatores desfavoráveis levam a que a densidade populacional seja muito baixa ou quase nula.
- Os fatores naturais mais importantes são o clima, o relevo, o tipo de solo e a vegetação. Com caráter repulsivo, identificam-se os climas muito quentes ou muito frios, o relevo montanhoso de grande altitude, solos pouco desenvolvidos (arenosos ou rochosos) e uma elevada densidade de vegetação.
- As grandes florestas estão associadas a um clima bastante húmido, dificultando a respiração e propiciando a existência de microrganismos causadores de doenças, bem como a solos empobrecidos.
- As grandes cordilheiras montanhosas têm na altitude, clima e declive das vertentes, as características mais desfavoráveis à presença humana.
Temas
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Meio Natural - Vazios humanos
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de Geografia
- Ano: 2021
- Imagem: Zona montanhosa densamente florestada, Quang Nguyen Vinh / Pexels