Anorexia e bulimia: espelhos mágicos, corpos trágicos

Comer pouco, apenas alguma coisa que engane a fome e satisfaça o ideal da magreza. Antónia reduziu tudo para metade e perdeu 18 quilos em seis meses; Francisca passava os dias com uma maçã no estômago; Gracinda vivia obcecada com gramas e aprendeu a vomitar. São histórias começadas na adolescência, contadas na primeira pessoa na reportagem. Nenhuma delas chegou ao ponto de não retorno de Isabelle Caro, a modelo e atriz francesa que morreu aos 28 anos a pesar 31 quilos e que volta a servir de alerta neste artigo.

É ela, em pele e osso, que anuncia a tragédia da anorexia nervosa numa fotografia tirada em 2007 para uma campanha publicitária que causou um profundo choque. O corpo nu, cadavérico, de seios caídos, obrigava o mundo a olhar e a falar sobre as terríveis consequências de um distúrbio alimentar que atinge sobretudo adolescentes do sexo feminino. “Chocar para sensibilizar”, justificava Isabelle, anorética desde os 13 anos, por influência genética ou porque fora aconselhada a perder muito peso se quisesse ser modelo. Talvez tenham sido as duas coisas a condená-la. Ainda assim, a indústria da moda aceitou-a e o cinema, nas suas palavras, usou-a como uma aberração.

Em “A Menina Que Não Queria Engordar”, autobiografia publicada um ano depois dos polémicos cartazes, Isabelle descrevia o inferno da anorexia. Mais de metade da vida passada a lutar contra a doença, com internamentos vários e um coma. Para ela, a batalha terminou em 2010.