Validade, verdade e solidez de argumentos
Há três noções interligadas, envolvidas na avaliação dos argumentos: verdade, validade e solidez. E há duas perguntas que temos de fazer para levar a cabo essa avaliação: o argumento é válido? as suas premissas são verdadeiras? Se respondermos que sim a ambas, então temos um argumento sólido, que é o que interessa.
VERDADE
Os argumentos são constituídos por premissas e conclusão. E tanto as premissas como a conclusão são expressas por frases declarativas.
As frases declarativas, ao contrário das interrogativas (fazer perguntas), das imperativas (dar ordens) e das exclamativas (exprimir sentimentos), exprimem algo que tanto pode ser verdadeiro como falso.
Por exemplo, a frase declarativa
«Viseu fica no Minho.»
exprime uma falsidade, dado que Viseu não fica no Minho, mas na Beira Alta. E também a frase
«Há seres extraterrestres inteligentes.»
diz algo que é verdadeiro ou que é falso, mesmo que não saibamos se é uma coisa ou outra: umas pessoas acreditam que é verdadeira e outras acreditam que é falsa.
Chama-se «proposição» ao conteúdo, verdadeiro ou falso, de uma frase declarativa. Assim todas as premissas e conclusões exprimem proposições verdadeiras ou falsas. Dizer que uma dada proposição é verdadeira ou que é falsa é dizer que ela tem um valor de verdade, pelo que verdade e falsidade são os dois valores de verdade.
VALIDADE
Todavia, os argumentos não têm, eles mesmos, valor de verdade, dado que podem ser constituídos só por proposições verdadeiras, como apenas por proposições falsas, ou por uma mistura de proposições verdadeiras e falsas. Eles são antes válidos ou inválidos, corretos ou incorretos, o que depende da sua estrutura, isto é, da maneira como premissas e conclusão se relacionam.
Mas como sabemos se um argumento válido ou inválido? Para isso temos de começar por fazer uma suposição e depois responder a uma pergunta:
Supor que as premissas são verdadeiras (mesmo que sejam falsas, a ideia é imaginar que são verdadeiras).
Perguntar se, dada a suposição anterior, a conclusão pode ser falsa.
Só há duas respostas possíveis para esta pergunta: sim ou não.
Se a resposta for que sim (isto é, a conclusão pode ser falsa supondo que as premissas são verdadeiras), então o argumento é inválido. A ideia é que não devemos confiar em argumentos que nos levam a conclusões falsas partindo de premissas verdadeiras, pelo que algo na sua estrutura deve falhar.
Se a resposta for que não (isto é, que a conclusão não pode ser falsa, supondo que as premissas são verdadeiras), então o argumento é válido, pois isso significa que a verdade das premissas nos garante que a conclusão também é verdadeira.
Vejamos um exemplo (I):
Messi é argentino e fadista. Logo, Messi é fadista.
Uma vez que o argumento só tem uma premissa, vamos supor que ela é verdadeira. Supondo que a premissa é verdadeira, poderia a conclusão ser falsa? A resposta é que não: se a premissa fosse verdadeira, a conclusão teria de ser verdadeira também. Por isso, o argumento é válido. Mas nós sabemos que a sua conclusão é falsa. Porém, a falsidade da conclusão deve-se ao facto de nos basearmos numa premissa falsa e não à estrutura ou forma do argumento.
Vejamos agora outro exemplo (II):
Messi é argentino ou português. Logo, Messi é argentino.
Neste caso, a verdade da premissa não garante a verdade da conclusão, isto é, a pesar de ser realmente verdadeira, a conclusão poderia sim ser falsa, mesmo que a premissa seja verdadeira — neste caso nem sequer precisamos de supor que o é. Se substituirmos Messi por CR7, mantendo tudo o resto, descobrimos que a premissa continuaria a ser verdadeira, mas a conclusão passaria a ser falsa. Não podemos, pois, confiar pois, num argumento assim: ele é inválido.
SOLIDEZ
Vimos que o argumento (I) é válido. Mas isso não o impede de ter conclusão falsa, o que mostra que nem todos os argumentos válidos interessam. Assim, não basta apenas que um argumento seja válido. Queremos também que as suas premissas sejam realmente, e não apenas supostamente, verdadeiras. Um argumento válido com premissas verdadeiras é um argumento sólido. Esse é o tipo de argumentos que procuramos, pois se for válido e consideramos as suas premissas verdadeiras, então somos logicamente obrigados a aceitar a conclusão.
Em resumo:
- As premissas e a conclusão de um argumento são proposições, isto é, têm valor de verdade (são verdadeiras ou falsas).
- Um argumento válido só não pode ter conclusão falsa, caso as premissas sejam verdadeiras.
- Como um argumento válido pode ter conclusão falsa, não basta ele ser válido para ser aceitável.
- É preciso que os argumentos sejam sólidos: serem válidos e as suas premissas serem todas verdadeiras.
- Se um argumento for sólido, temos a garantia de que a sua conclusão é verdadeira.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Validade, verdade e solidez
- Área Pedagógica: Filosofia
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Aires de Almeida
- Produção: RTP
- Ano: 2020
- Imagem: Foto de Christina Morillo no Pexels