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O Modernismo

O Modernismo

É a partir de meados do século XX que se começam a estabelecer definições compreensivas do modernismo. Apesar de esta ser uma definição disputada, o modernismo pode ser sintetizado como "aquela concepção da arte moderna como um campo cada vez mais autónomo dedicado não à comunicação de informação sobre um mundo mais vasto de acção histórica, mas à produção de efeitos estéticos".

Apesar de a palavra modernismo ser utilizada desde há alguns séculos, é a partir de meados do século XX que se começam a estabelecer definições compreensivas do modernismo. As primeiras referências ao termo encontram-se na passagem do século XVII para o século XVIII, ligando-o desde aí a uma ideia de efemeridade. Porém, a meio do século XX era já possível apreender os caminhos da arte desde, grosso modo, meados do século XIX, cobrindo assim cerca de cem anos.

O modernismo, como escreve Paul Wood, pode então ser sintetizado como “aquela conceção da arte moderna como um campo cada vez mais autónomo dedicado não à comunicação de informação sobre um mundo mais vasto de ação histórica, mas à produção de efeitos estéticos”. O termo acabaria assim por agrupar alterações de fundo na teoria e prática das diversas artes, desde a literatura, à música, passando pela dança, o teatro ou as artes visuais e cinemáticas, podendo ainda ligar-se à sedimentação de um corpo institucional da arte composto por museus, galerias e outros.

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Para lá deste campo autónomo da arte, associa-se geralmente ao modernismo um amplo movimento no campo da cultura que se relaciona com uma quebra com as estruturas produtivas, sociais, políticas e culturais anteriores. Alterações ligadas à afirmação do capitalismo industrial e financeiro, às grandes migrações do campo para a cidade e para os países ou regiões industrializadas, às lutas políticas e sociais que permearam esse tempo e ainda aos desenvolvimentos das ciências humanas e naturais.

Neste sentido, a noção de modernismo liga-se ainda a uma preocupação ética e política com diversas matizes, desde a relação com crítica ao capitalismo, que passou por movimentos anarquistas, comunistas ou socialistas, até à sua mobilização por forças conservadoras.

No que diz respeito às artes visuais, a aceção de modernismo que se tornou mais produtiva começa a delinear-se em 1939, ano em que o crítico de arte norte-americano Clement Greenberg (1909-1994) publica na revista Partisan Review o artigo “Avant-garde and Kitsh”. Mas será em artigos subsequentes, como “Towards a New Laocoon”, publicado na mesma revista em 1940, que Greenberg irá elaborar uma versão do modernismo em que ligava as novidades estéticas do século XIX em diante à história da arte anterior, com a qual aquelas pretendiam quebrar. Assim, em síntese, irá formular uma narrativa da arte em que à definição de um espaço perspético e das convenções da pintura desde o Renascimento, respondiam as vanguardas a partir de meados, finais do século XIX com a procura da especificidade do seu meio de expressão.

Na pintura, tal verificava-se na assunção da bidimensionalidade do suporte – o quadro – iniciando-se este percurso com Édouard Manet (1832-1883) que em telas como Le déjeneur sur l’herbe (1862-1863) abandonava as relações de escala entre as figuras, tendo em conta a sua disposição em profundidade. Continuava com a progressiva implosão do espaço perspético ao longo das vanguardas, numa história que viria a culminar no Expressionismo Abstrato de Jackson Pollock (1912-1956) ou Willem de Kooning (1904-1997). 

Neste percurso histórico, um outro dado fundamental radicava na sua defesa da autonomia da arte por via precisamente do foco na resolução de problemas que lhe eram particulares, desde logo as suas propriedades físicas. Resultando assim numa autorreferencialidade da pintura que, ao centrar-se naquilo que lhe era específico, anulava ou relegava para segundo plano toda e qualquer interferência exterior. O que ajudaria a uma leitura do trabalho de Greenberg que afastava o seu modernismo de uma relação mais fecunda com o peso político e social que as vanguardas foram demonstrando.

Vanguarda
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Tese que se imbricava ainda com o formalismo, a que Greenberg é associado, e cuja articulação entre a tradição da pintura e as sucessivas ruturas pelas vanguardas revela um modo de entender o tempo ainda historicista, expondo igualmente um modernismo dependente de um exercício de autorreflexividade e de apresentação do novo que sustentava a sua aceção do tempo histórico.

Porém, convirá ressalvar que se o entendimento do modernismo por parte de Greenberg foi produtivo, tal não sucedeu apenas pelo modo como a sua tese pôde relacionar-se com a prática artística anterior e coeva, oferecendo um modelo explicativo da arte que poderia ligar passado e presente, bem como apontar  a uma orientação futura do trabalho e do pensamento sobre esta.

A sua relevância deveu-se igualmente ao facto de ser precisamente contra essa versão do modernismo que se moveu parte da produção artística, bem como da Estética, da História e da Teoria da Arte dos anos 1960 em diante. De resto, aí se jogou igualmente a definição do que se possa entender enquanto pós-modernismo.

E se tal permitiu reequacionar a proposta de Greenberg, foi também na sequência da reflexão acerca do pós-modernismo e de quais os modos como se relacionava com o modernismo que este último foi sendo reexaminado. Estudo de que dará conta a alteração mais recente da grafia Modernismo por modernismos, abandonando-se uma versão unitária que, de resto, nunca havia sido capaz de englobar a diversidade da produção artística e teórica daquele período de cerca de um século.

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Síntese

  • O modernismo pode ser sintetizado como uma ideia da arte moderna que trabalha a sua autonomia pela produção de efeitos estéticos.
  • Por modernismo pode entender-se um conjunto alterações de fundo na teoria e prática das diversas artes (literatura, música, dança, teatro, artes visuais e cinemáticas), que efetuam uma ruptura com um conjunto de práticas artísticas anteriores.
  • É a partir de meados do século XX que se começam a estabelecer definições compreensivas do modernismo, num momento em que era já possível fazer o balanço da arte produzida, grosso modo, no século anterior.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: O Modernismo
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação de Professores de História/André Silveira
  • Ano: 2021
  • Imagem: Jackson Pollock, One: Number 31. Copyright MoMa, educational use