Peregrinos da Ilha Grande: uma fé para a humanidade
A RTP fez-se à estrada com os romeiros da Ribeira Quente. Todos marcados por uma tragédia que lhes matou amigos e familiares, outros, livres da doença. São 300 quilómetros a superar o cansaço, a chuva e as bolhas nos pés. Uma tradição cultural única no mundo, candidata a património mundial da UNESCO.
“Sempre que havia um tremor de terra, uma enxurrada, uma catástrofe natural, a romaria era uma forma de apaziguar a ira divina, e elas estão atestadas nos documentos desde o século XV e XVI”, refere a historiadora Susana Goulart Costa nesta grande reportagem na ilha açoriana de São Miguel. A tradição vive até hoje na fé dos peregrinos que pela quaresma, com a cruz na frente, não param de caminhar debaixo de sol ou da chuva inclemente.
Sempre com o mar pela esquerda, ranchos de homens, novos e velhos, de todas as profissões, dão a volta à ilha. Aos ombros um xaile, na cabeça um lenço garrido, bordão e terço nas mãos distinguem-nos nesta peregrinação de devoção a Maria, mãe de Jesus. As capelas são visitadas e pelo caminho há oração, introspeção e, sobretudo, esforço para agradecer proteção numa terra de vulcões que tanto faz o chão que pisam, como o destrói, segundo as vontades da natureza.
Há 500 anos que se cumpre esta marcha, desde que em São Miguel a terra tremeu e levou mais de cinco mil almas. Os romeiros cumprem promessas, agradecem pela saúde e rezam pelos que já se foram em tragédias próprias de uma terra de vulcões e intempéries. Pelas freguesias, as portas vão-se abrindo para comida e abrigo. Uma caminhada única no mundo, onde cultura, fé e paisagem se unem com sentido de património para a humanidade.
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Ficha Técnica
- Título: Linha da Frente - O Caminho da Ilha Grande, temporada 15 - episódio 12
- Tipologia: Reportagem
- Autoria: Sandra Vindeirinho / Rui Machado Rodrigues / Sara Cravina
- Produção: RTP
- Ano: 2023