População portuguesa
Em Portugal, a realização dos censos remonta a 1864, evidenciando um crescimento irregular embora globalmente positivo. No entanto, desde 2007 que se assiste a uma regressão progressiva, associada a múltiplos fatores e com um impacto significativo. A conjuntura demográfica atual coloca vários desafios e faz soar os alarmes da sustentabilidade social e económica, num quadro de duplo envelhecimento.
A Geografia da População (Fig.1) é fundamental para o conhecimento de um território, servindo de base a qualquer processo de planeamento, com vista ao estabelecimento de políticas direcionadas à melhoria da qualidade de vida da população, sobretudo quando há regiões com saldos bastante positivos e outras em clara regressão demográfica.
Em termos globais, Portugal mais do que duplicou a sua população desde o primeiro censo (designação abreviada de recenseamento, forma mais antiga e credível de contagem populacional e das condições em que a população habita), realizado em 1864 (Fig.2).
Desde o primeiro censo, verifica-se um crescimento gradual da população residente, apesar do ritmo de crescimento lento de 1911 a 1920, devido à gripe pneumónica e à guerra.
Com a diminuição da mortalidade e aumento da esperança de vida volta-se a um ritmo de crescimento mais acelerado, mas com uma diminuição na década de 60 devido à intensa emigração.
Com a emergência da democracia e a descolonização, Portugal viu crescer a sua população, graças aos regressados das ex-colónias. Segue-se nova quebra no dinamismo demográfico, embora se ultrapasse, em 2001, os dez milhões de habitantes.
Os anos 90 e os primeiros anos do séc. XXI registaram um crescimento contínuo da população, devido ao fluxo imigratório e a um aumento da esperança de vida. A partir de 2011 estamos perante uma regressão demográfica que o censo de 2021 irá confirmar.
O crescimento natural assenta no comportamento da natalidade e da mortalidade, dependendo a taxa de crescimento natural (TCN) da taxa de natalidade (TN) e da taxa de mortalidade (TM) – Fig.3.
A TN apresenta um decréscimo acentuado, situando-se hoje abaixo da TM o que, aliado a baixas taxas de fecundidade e a um índice sintético de fecundidade abaixo dos 2,1 filhos por mulher, condiciona a renovação de gerações. Essa redução deve-se a um conjunto de fatores como a emancipação feminina, o acesso ao planeamento familiar, o aumento dos encargos com os filhos, o aumento da escolaridade obrigatória, o casamento tardio, entre outros.
A TM apresenta uma certa estabilização desde 1960. Em Portugal, a redução da mortalidade iniciou-se na década de 20 do século passado, graças, sobretudo, à progressiva melhoria das condições de vida e de trabalho, da alimentação, dos cuidados de saúde e da assistência médica. No entanto, nos últimos anos, tem registado uma ligeira subida associada ao envelhecimento da população, pelo que a TCN tem vindo a diminuir progressivamente, apresentando-se nos últimos anos com valores negativos.
A esperança de vida à nascença (EMV) teve uma evolução muito positiva, com ganhos importantes em virtude do desenvolvimento socioeconómico do país. Embora a EMV das mulheres seja tendencialmente superior, os valores de ambos os géneros têm vindo a aproximar-se (Fig.4).
A taxa de mortalidade infantil (Fig.5) também apresenta uma redução acentuada, embora mais lenta e recente. Não obstante os valores acima dos restantes países europeus e da ligeira subida nos anos de 2011, 2012 e 2018, Portugal atingiu um patamar digno de orgulho a nível mundial.
O crescimento efetivo agrega o crescimento natural e o saldo migratório, pelo que, com valores negativos no primeiro indicador, resta o saldo migratório como principal componente do crescimento real da população, não só a nível nacional, como regional, contribuindo para uma ligeira desaceleração do decréscimo demográfico verificado nos últimos anos (Fig.6).
A evolução do saldo migratório português (Fig.7) espelha as inconstâncias dos ciclos políticos e económicos, com duas épocas de forte emigração, na década de 60 e mais recentemente, entre 2011 e 2016 (consequência da crise económica e financeira), e com uma recente recuperação da imigração desde 2017.
A estrutura etária evidencia um duplo envelhecimento pela base, dada a redução da proporção de jovens resultado da baixa natalidade, e pelo topo, em consequência do aumento da proporção de idosos, assente no aumento da esperança de vida e na redução da mortalidade (Fig.8).
O índice de dependência de idosos tem vindo a aumentar significativamente, originando grande pressão sobre os contribuintes e um desafio para o sistema de Segurança Social. O índice de dependência de jovens sofreu uma ligeira quebra, associada à redução da natalidade.
SÍNTESE
- Os recenseamentos da população são a principal base estatística para compreender o comportamento das diferentes variáveis e indicadores demográficos.
- Apesar da tendência global de crescimento, a evolução da população portuguesa tem sido irregular e claramente dependente do comportamento de variáveis demográficas como a natalidade, a mortalidade, a emigração e a imigração.
- O crescimento efetivo da população resulta atualmente de um crescimento natural negativo, compensado unicamente por um saldo migratório positivo.
- A estrutura etária da população portuguesa caracteriza-se por um fenómeno designado de “duplo envelhecimento” com redução do número de jovens e aumento do número de idosos.
- As assimetrias do nosso país são acentuadas pelos contrastes regionais que se verificam ao nível dos vários indicadores demográficos.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: População e Povoamento - A população utilizadora de recursos e organizadora de espaços / Evolução e diferenças regionais
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de Geografia
- Ano: 2021
- Imagem: Mulher idosa, Sabine van Erp / Pixabay