Explicador Explicador

As potências europeias partilham as colónias

As potências europeias partilham as colónias

Na Conferência de Berlim deu-se a partilha de África entre as potências europeias, estabelecendo-se o princípio da ocupação efetiva. O imperialismo europeu assumiu vários modos de domínio e tomou diversas formas. As disputas eram frequentes, como a que se verificou entre os planos de ocupação de África de Portugal (Mapa Cor de Rosa) e Inglaterra (Do Cairo ao Cabo), tendo Portugal cedido ao Ultimato britânico e abandonado os territórios entre Angola e Moçambique.

No século XIX, várias expedições europeias procuravam aprofundar o conhecimento geográfico e científico do interior do continente africano, nomeadamente as de Livingstone,  Stanley, ou  Brazza. A descoberta da existência de riquezas naturais viria a aumentar a rivalidade entre as potências industriais, desejosas de alcançar novas fontes de matérias primas, mercados de consumo e novos destinos para os seus excedentes de população.

A Conferência de Berlim
Veja Também

A Conferência de Berlim

Em 1884-1885, na Conferência de Berlim, organizada pelo chanceler alemão Otto von Bismark, negociou-se a partilha de África entre as potências europeias, sem que os povos africanos fossem consultados. Proclamaram-se várias medidas, várias delas prejudiciais a Portugal enquanto potência colonial, como a criação do Estado do Congo, sob soberania de Leopoldo II, rei da Bélgica, a livre navegação e comércio nas bacias do Congo e do Níger e o primado do princípio da ocupação efetiva.

Até aí, respeitava-se o princípio da ocupação histórica, que beneficiava países como Portugal, que iniciara a sua ocupação de territórios africanos no século XV. O novo princípio implicava que os territórios africanos seriam colonizados pelos Estados que demonstrassem ter capacidade para o fazer, o que era favorável às potências industriais e militares.

Inglaterra, França, Portugal, Bélgica, Espanha, França e Itália, todos reclamaram a sua parte de África. As fronteiras traçadas em sucessivos tratados e convenções entre estes Estados, não respeitaram os direitos nem as realidades políticas, económicas, sociais e culturais dos povos africanos, o que esteve na origem de situações de conflito nos séculos XIX e XX. Nas vésperas de Primeira Guerra Mundial, só a Libéria e a Etiópia eram Estados independentes naquele continente.

Assim se acentuou o imperialismo europeu, que assumiu diversas formas: o colonialismo, associado à conquista territorial; o protetorado, que implicava o controlo político indireto sobre uma região, uma vez que os governantes eram locais, mas selecionados e controlados pelos europeus; as concessões, conseguidas como contrapartida da prestação de serviços públicos, como a construção de caminhos de ferro, e que implicavam condições especiais de residência e comércio para estrangeiros, que controlavam grande parte dos negócios, influenciando a governação e difundindo a sua cultura livremente entre os habitantes locais.

As guerras de ocupação
Veja Também

As guerras de ocupação

De todas as formas, o colonialismo foi a principal forma de dominação europeia, exercida sobre a África e sobre a Ásia e associando todas as facetas do imperialismo: domínio político, militar, económico e cultural dos europeus sobre as populações autóctones.

Tendo bem presente a concorrência dos outros Estados europeus, surgiu entre políticos portugueses como Luciano Cordeiro, Pinheiro Chagas ou Barros Gomes, o plano de efetivação da ocupação portuguesa na África Central. A Sociedade de Geografia, de que aqueles políticos eram sócios fundadores, desenhara um projeto de ocupação do território entre Angola e Moçambique, que ficou conhecido como o Mapa Cor-de-Rosa e que constava numa convenção entre Portugal e França, em 1886. Portugal só controlava de modo efetivo as zonas litorais e entre 1884 e 1886, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens encabeçaram expedições que procuravam conhecer o território e seus recursos entre Angola e Moçambique.

Foi pedido à população portuguesa que contribuísse financeiramente para as despesas de instalação de estações civilizadoras que assegurassem o domínio português dessa região. Tanto o rei D. Luís como, depois dele, o rei D. Carlos apoiaram o projeto, tanto pela diplomacia como pelo envio de expedições para ocupar de facto os territórios, conforme estabelecido na Conferência de Berlim.

Roberto Ivens, explorador e aventureiro
Veja Também

Roberto Ivens, explorador e aventureiro

A presença dos Alemães na África Oriental perturbara o plano inglês, impulsionado por Cecil Rhodes, de construir um império do Cairo ao Cabo, pelo qual pretendiam dominar uma longa faixa territorial entre o Norte e o Sul de África, aí construindo linhas de caminho de ferro. Ora, as pretensões portuguesas seriam também um obstáculo, que a Grã-Bretanha se encarregou de afastar com a proclamação do Ultimato britânico de 11 de janeiro de 1890, exigindo que os portugueses retirassem as suas tropas do território em disputa.

O rei D. Carlos, o seu Conselho e Governo acabaram por ceder às exigências da grande potência política, militar e económica que era a Inglaterra, receando que um conflito armado resultasse na perda de ainda mais territórios. Esta medida foi rejeitada pela população, que a sentiu como uma humilhação, culpando a Coroa. Este terá sido um dos fatores que levou à revolta de 31 de janeiro de 1891, que tentou derrubar a monarquia e instaurar uma república, a partir da cidade do Porto.

Síntese

  • Na Conferência de Berlim deu-se a partilha de África entre as potências europeias, estabelecendo-se o princípio da ocupação efetiva.
  • O imperialismo europeu assumiu vários modos de domínio e tomou diversas formas.
  • As disputas eram frequentes, como a que se verificou entre os planos de ocupação de África de Portugal (Mapa Cor de Rosa) e Inglaterra (Do Cairo ao Cabo), tendo Portugal cedido ao Ultimato britânico e abandonado os territórios entre Angola e Moçambique.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Explicar a importância da Conferência de Berlim (1885) no processo de partilha do continente africano. Caracterizar as formas de domínio sobre os territórios não autónomos no século XIX. Relacionar os princípios de ocupação definidos na Conferência de Berlim com o projeto português do Mapa Cor-de-Rosa e o Ultimato Inglês.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/Sofia Condesso
  • Ano: 2021
  • Imagem: Cartoon: As potências europeias dividem África, Revista "Le Frondeur" 1884